segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Da mediocrização das escolas

Temos assistido, ao longo do século XX, a um processo constante de mediocrização das escolas. Criadas para substituir um ausência dos pais, ocupados demais em seus papéis de trabalhadores, dentro de uma estrutura social capitalista. Na realidade estes pais estão imersos na lógica mercantil, fordista-taylorista, e têm que relegar seus filhos às escolas para o aprendizado que deveriam ter em casa. A escola apareceria como um substituto do processo educacional que deveria ser feito em casa, pela família e pelos pais, de forma espontânea e natural.

Na escola, no modelo atual, as crianças passam a ser enjauladas, dentro dos muros das escolas em que não têm autônomia de produção de conhecimento. O professor aparece como um mestre e autoritariamente impõe um conhecimento que não desperta o mínimo gosto e prazer nos jovens alunos. Enfileirados, seguindo o modelo espartano, de disciplina e qualificação, são classificados em números que não refletem as múltiplas capacidades ou potencialidades que os jovens alunos poderiam desenvolver. Poderíamos dizer que nossas escolas tradicionais matam a criatividade dos nossos alunos, tornando-os meros téncicos de um saber medíocre, preparando-os para passar em exames medíocres, que os levaram à faculdade. Os jovens entram com múltiplas integências e potencialidades nas escolas, e saem de lá apenas mais um parafuso na engrenagem do mercado.

A cabeça do ser humano, quando criança, se move por curiosidade, pela busca pelo prazer. A busca pelo modelo da escola 2.0., ou da escola do futuro, escola ativa, conforme sonhado por Jean Piaget, deve buscar a construção autônoma da aprendizagem. Também foi sonhado pelo método Montessori algo parecido com isso. Mas agora temos que enfrentar as tecnologias. Temos que aprender em co-operação com nossas crianças e nossos jovens.

Falar em novas tecnologias em educação é dizer de uma escola sem muros, é falar de uma escola sem muros. A sociedade foi inundada pela internet e pelas novas tecnologias, hoje, os jovens se divertem e interagem através das técnologias móveis. Como, então, adaptarmos nossas escolas a esta nova realidade?

Abrindo os muros e mudando os paradigmas. Primeiro, mudando o curriculo. Não mais forçar os alunos a aprender conhecimentos que venham de fora dos alunos, mas descobrirmos o que movem nossos estudantes, em suas múltplias dimensões. Um currículo mais aberto, que englobe as múltiplas potencialidades e que não seja baseasdo exclusivamente na repetição.

O segundo passo é uma mudança na mentalidade dos esducares. Educar é colaborar. è ajudar o aluno a ampliar seu conhecimento. Tratamos aqui de algo que deve ser uma política pública, uma vez que a formação de professores deve ser a prioridade das universidades. O educardor é fundamentamente um parceiro da criança no seu desenvolvimento de suas potencialidades.

Mudando o papel do educador, a estrutura da escola deve mudar-se. Não há lógica em um ensino infantil, enisno, fundamental, ensino médio. Deve-se pensar em competências e habilidades, não em conteúdos medíocres. E aos poucos a socialização das crianças será feita de acordo com sua plenitude, não de acordo com os padrões e normas sociais.

Existem ainda, os recursos educacionais abertos, uma possibilidade de aprendizado contínuo e autônomo, que inculuí a tecnologia para despertar a curiosidade e prazer no aprendizado dos jovens. Desde um celular a um tablet e um computador, os jovens podem, autonoma, e livremente aprender segundo suas próprias necessidades.


Não, as escolas não vão substituir os pais.  Sim, abramos os muros das escolas!

sábado, 21 de julho de 2012

Tropicalismo Antropofágico

O Brasil dos anos 60 vive um universo extremamente conturbado. No lado político vemos o fim do mandato de Juscelino Kubitschek, com sua pretensa modernização do país; vemos também a excêntrica eleição de Jânio Quadros, seguida de sua renúncia; vemos ainda o populismo ressurgir na figura de João Goulart, discípulo de Vargas; e finalmente sua deposição pelos militares, que instauram um regime autoritário, cujo ápice é simbolizado pelo Ato Institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968. Tais turbulências no cenário político do país afetaram, certamente, os campos culturais, em especial o autoritarismo militar, atuando como catalisadores de transformações profundas em todos os campos da cultura nacional. Nos ateremos aqui, devido as limitações inerentes ao trabalho, ao campo da música.

A partir de 1958 vemos surgir um movimento musical, encabeçado por João Gilberto, que rejeitando os padrões estéticos e a sensibilidade então predominante na canção brasileira. Um banquinho e um violão, uma aparente tensão entre o cantado e o tocado, entre ritmo e voz, emergem como filhos edipianos do tradicional samba carioca e dos épicos cantores e cantoras do rádio. Tal movimento, consagrado como a bossa nova, teve ainda a agremiação de artistas como Tom Jobim, o poeta Vinícius de Moraes, e a intérprete Nara Leão. Ao longo dos anos 60 vemos surgir, dentro e a partir da bossa nova, um novo estilo, com características próprias. A partir de figuras como Carlos Lyra, Zé Kéti, Baden Powell, Elis Regina, entre outros, vemos a canção, ainda que apegada a certos traços bossanovistas, remodelar sua temática. Se em João Gilberto em seus companheiros vemos aparecerem os temas da zona sul carioca, as garotas de Ipanema e os barquinhos, nesse novo grupo, da Canção de Protesto, os temas ecoados ganham uma dimensão expressamente política. Os novos temas passam pela realidade rural, o sertanejo, as mazelas, o subdesenvolvimento.
Surgem, nesse momento, os CPCs da UNE, visando a produção de uma arte-engajada, compromissada com a política nacional. Muitos dos filhos da bossa-nova se envolvem nessas novas propostas e projetos.

Os anos 60 são ainda o momento em que aparece na cena pública o jovem Glauber Rocha, cineasta cujos impactos na cultura brasileira são tremendos. Aparecem também alguns cantores baianos, um Zé, um Caetano e um Gil, articuladores de algo que se chamou tropicalismo e que é o foco principal dessa reflexão.

O tropicalismo bebeu, certamente, nas fontes inovadoras trazidas por Glauber Rocha em sua produção cinematográfica. Com uma narrativa não-linear, fragmentária, dispersa, encontrada principalmente em Terra em transe, é trazida uma estética inovadora para a cultura brasileira. A obra de Glauber ainda trouxe elementos de uma cultura engajada, de questionamentos existenciais, afinando-se mesmo com os princípios dos modernistas de 22. Alguns tomam Glauber como o inaugurador do pós-modernismo nas terras brasílicas.

Pois bem, se Glauber trouxe questões inéditas à cena cultural brasileira, pode-se afirmar que o tropicalismo dessas se apropriou, chegando mesmo a expandi-las. O movimento, se é que cabe tal denominação, tem início a partir dos encontros de Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1967 Caetano e Gil lançam seus primeiros LPs, que continham alguns traços das canções de protesto, mas traziam um virtuosismo poético, traços românticos anunciadores do que estava por se formar.
No mesmo ano, em outubro, os dois compositores participam do III Festival da Música Popular Brasileira. Tal evento, como outros da época, convergia diversas tendências musicais, desde jovem guarda a canção de protesto, e servia de janela para a projeção nacional dos artistas. É nesse festival que podemos encontrar a primeira forma de manifestação pública do tropicalismo. Caetano fica em quarto lugar com Alegria, alegria, e Gil conquista o segundo com Domingo no parque. Mais que as colocações, o impacto de suas apresentações e a significação simbólica dessas, soltam as questões tropicalistas no ar da canção brasileira.

Alegria, alegria foi apresentada ao público por Caetano acompanhado do grupo de rock Beat Boys. Aparecem as guitarras, demonstrando uma nova atitude na MPB que se formava. Os longos cabelos encaracolados e desarrumados de Caetano mostravam indícios da desconstrução e inovação do tropicalismo. Vejamos, pois, os elementos de Alegria, alegria que demonstram essa nova postura na canção brasileira.

Na canção é possível identificarmos a fragmentação, influencia de Glauber, as colagens de referencias estranhas entre si. Assim encontramos crimes, espaçonaves e guerrilhas, bomba e Brigitte Bardot. Além disso, o engajamento político também se manifesta, longe dos extremismos das esquerdas e direitas do período, como nos trechos: sem livros, sem fuzis/sem fome sem telefone/No coração do Brasil. A dúbia referência ao sol nas bancas de revista, aludindo tanto ao astro quanto ao jornal de esquerda simboliza uma proposta mais ampla do tropicalismo. O movimento se pautou por uma recusa, uma aversão a formas pré-estabelecidas, um grande niilismo. Isso se refletiu nas críticas postuladas à época, vindas tanto da esquerda, quanto do regime autoritário militar.
A grande inovação e contribuição questionadora do tropicalismo talvez se encontre exatamente nessa postura em suspensão, alheia a tendências, sem cair numa alienação. Reelaborando o antropofagismo modernista de Oswald e Mario de Andrade, aparecem na canção a coca-cola, as espaçonaves, num movimento de absorção do estrangeiro e recriação dos moldes nacionais.

O movimento se desenvolveu, englobando os Mutantes e sua psicodelia lisérgica, Gilberto Gil e suas canções alterando entre o regionalismo romântico e a critica engajada, e o concretismo de Tom Zé. Veio o interminável ano de 1968, e com ele a repressão e censura às canções dos tropicalistas. Gil e Caetano acabam por partir para o exílio. Certamente, a partir de tal instante, o tropicalismo transmutara-se, não mais continha a agremiação de tendências culturais e a explosão inovadora que proporcionara. Talvez seja mesmo esse o destino daqueles movimentos que suspendem o estabelecido, agregam tendências, ou mesmo da pós-modernidade, desfazer-se, ser nada mais que um instante. No fundo o tropicalismo se tratou exatamente disso, de um presente perpétuo, um eterno caminhar, que nesse movimento, paradoxalmente, produz seu próprio descaminho, desligando-se do presente.

A essência de originalidade pode até se desfazer, mas os personagens continuam em cena. E novos também aparecem. A renovação cultural trazida pelo tropicalismo trouxe uma explosão de novas manifestações da canção brasileira. Essa canção busca entoar as questões de sua volta, como um arauto dos anseios dos josés, joãos e marias brasileiros. E nesse contexto, vemos Selvagem, dos Paralamas do Sucesso, reatualizar, em 1986 algumas questões tropicalistas.
Os novos personagens, transgredindo as forteiras do urbano/rural, público/privado são apresentados: a polícia, o governo, a cidade, os meninos, os mendigos, os negros. E esses, por sua vez, mostram suas armas, fazem-se ouvir nesse imenso barril de pólvora chamado Brasil.

Se pensarmos em nosso contexto atual, apesar de imperar uma pretensa democracia, ainda os ideais da geração tropicalista, e da geração dos 80, são suprimidos por um cenário consumista e opressor. Apresentemos, pois, nossas armas. Superemos a futilidade e inutilidade da cultura midiática, e realizaemos a operação antropofágica, recuperando os valores e princípios maiores de nossa cultura. Não mais nos espantemos do grande monstro a se criar. Comamos, pois, o monstro antes que ele nos coma. Resta ainda a esperança de vermos a aspiração do perpétuo presente tropicalista, da grande colagem cultural se manifestar diante dos tortuosos caminhos que se mostram.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Educação x Tecnologia ?!

“Se a educação sozinha não pode transforma a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”. O pensamento de Paulo Freire, um dos maiores educadores que o mundo teve a honra de conhecer, ganha novos contornos nos dias atuais. A avalanche digital que inunda a sociedade – e que não pode mais ser ignorada – impõe um desafio existencial aos educadores.

Como Paulo Freire professava, educação e sociedade andam de braços dados, as transformações sociais levam a novas práticas educacionais, as práticas educacionais têm a potencialidade de transformar realidades sociais. Mais do que uma via de mão dupla, educação e sociedade são como linhas que se entrelaçam para dar origem a algo que não pode ser resumido em nenhuma das linhas que o formam. É uma relação mais que dialética. Nestes entrelaçamentos está um potencial revolucionário (no sentido de transformação do mundo e das ideias) único. Por outro lado se pensarmos com todas uma tradição que vai de Rousseau a Freud, transitando por vários conceitos e teoria, educação é também sinônimo de aculturação, ou seja há sempre uma dose de “adestramento” dos impulsos em favor do convívio em sociedade no processo educacional

Tendo em vista estas duas características do processo educacional, seu potencial revolucionário e sua dimensão psicológica, como pensar o papel do educador em meio ao mundo virtual-tecnológico em que seus alunos vivem? A primeira postura, defensiva e instintiva, é eleger o inimigo. Tecnologia e educação seriam opostos. Afinal de contas em 90% do tempo em que estão em contato com as ferramentas tecnológicas, somente banalidade e futilidade fluem das telas para as mentes dos aprendizes. Ou ainda pior: os meios de comunicação se tornaram extremamente perigosos, expondo os jovens a uma sorte de males. Definitivamente pais e educadores devem restringir o acesso a esses meios, são os guardiões que podem proteger os jovens dos perigos do mundo digital. Argumentos medrosos, de pais e educadores covardes, que não percebem que a restrição não funciona, pois por toda a volta eles sempre encontrarão uma oportunidade de plugar-se.

Ao invés de eleger um inimigo, cabe incorporar os atrativos digitais no processo educacional. Antes de condenar, buscar entender a motivação criada pela virtualidade. O primeiro passo. Vale lembrar que as tecnologias são apenas um meio. Quem pode dotá-las de funcionalidade e conteúdo, são os homens. Daí o papel de vanguarda da educação. Somente ela pode preencher o virtual com a densidade do conhecimento. Daí a possibilidade revolucionária da educação se utilizar da tecnologia para produzir transformações sociais. Usar a linguagem, as ferramentas para cativar os aprendizes, instigando-os a uma postura crítica frente até mesmo à tecnologia.

No caso contrário, a educação será cada vez mais um adestramento, um processo de criação de seres alienados e neuróticos, que freqüentam as escolas por freqüentar, fazem as tarefas por fazer, mas não se sentem estimulados, nem levam algo para além dali. Seres robóticos, fascinados pela tecnologia, mas sem um pensamento crítico. Salve! Precisa-se urgente de educadores! Senão, como dizia Darcy Ribeiro: “O professor finge que ensina e o aluno finge que aprende.”

sábado, 14 de janeiro de 2012

Digitalidade, autoria e conhecimento

A ideia de “digitalidade” surge como um conceito-paramêtro para medir o nível de inserção das pessoas no mundo tecnológico. Sem ancoragem bibliográfica, sem o apadrinhamento de um grande teórico, ainda assim pode ser extremamente útil para aqueles que desdenham dos rigores metodológicos dos intelectuais. Até mesmo porque estes intelectuais, em sua maioria, estão no primeiro estágio de sua digitalidade, ainda não estão inseridos na lógica dos wikis, blogs e fóruns, onde o conhecimento é produzido coletivamente, para o bem e para o mal. Nos guiarmos pela lógica dos dinossauros analógicos acadêmicos apenas restringirá a potencialidade de nossas percepções criativas.

Num nível avançado de digitalidade, até mesmo a noção de autoria se dissolve. Não o autor, mas sim a autoria. A noção de construção coletiva é elevada. As citações, interações, recriações, adaptações, livre-associações, fazem do texto uma estrutura desestruturada, aberta, interativa, onde não há espaço para egoísmos e egocentrismos. Imagine all the world sharing knowledge... No estágio primitivo da digitalidade os homo, que se dizem sapiens, conhecimento é poder individual. No estágio avançado, conhecimento é sinônimo de coletividade. O instinto virtual é coletivo.

Dentro deste instinto, o pensamento torna-se propriedade comum, imerso nas teias da web. Basta um bom instinto de pesquisa, e o conhecimento acumulado em mais de vinte séculos está na palma de sua mão, via 3G. Um comentário em um blog, fórum ou rede social, pode-nos levar a conhecer um universo antes desconhecido. Uma citação nos leva a um autor, que conseguimos baixar gratuitamente em PDF. Dali podemos ir a um sebo, e acharmos uma edição de 1929, do desconhecido, mas genial autor argentino José de Ingenieros. E todo o academicismo, toda burocracia de referenciar-se bibliograficamente cai por terra. E por vezes os eruditíssimos acadêmicos se escondem em seus gabinetes, ao invés de participarem da construção coletiva do conhecimento. Não são todos que tem a coragem de pôr a cara a tapa.

Mas a avalanche tecnológica não é, nem deve ser um fim em si mesmo. Mas como é um meio com alto potencial! Revolucionário. E sem o determinismo darwinista, mas os dinossauros analógicos devem se preocupar, pois, It´s Evolution, baby! Porque escrevermos uma dissertação, se podemos dissertar sinteticamente diariamente, com ideias tão subversivas, livres e calcadas em sólida base, em algumas linhas de um blog. Os perigos da difusão estão aí. Não mais os seres precisam ser um vazo vazio, a ser preenchido pelas opiniões elevadas dos intelectuais, professores, jornalistas, políticos. Eles têm a informação, e muita informação na web. Eles se tornam críticos, debatem virtualmente, polemizam. Se deslobotomizam, e quão periculoso isto não pode ser para os dinossauros analógicos...

sábado, 10 de dezembro de 2011

Mobile Revolution

Mobile revolution

“A revolução não será televisionada”. Frase impactante, reproduzida por lideranças de esquerda, libertários, ecoou nas vozes do líder zapatista, o

subcomandante Marcos, no rock enérgico do Rage Against the Machine, no maracatu psicodélico de Chico Science & Nação Zumbi. O que poucos sabem é que a frase

foi registrada em 1971 por Gil Scott-Heron, em uma de suas letras:

“You will not be able to stay home, brother.
You will not be able to plug in, turn on and cop out.
You will not be able to lose yourself on skag and skip out during commercials,
Because the revolution will not be televised”
Scott-Heron, este negro que foi um ancestral do rap norte-americano, trazendo a margem da sociedade para suas letras antecipou algo que podemos não só ver,

mas sentir nos tempos digitais em que vivemos. Realmente a revolução não vai passar na TV. Não só porque esta mídia tem o imenso poder de anestesiar mentes

com sua realidade paralela, imobilizando ao invés de mobilizar, mas porque a TV já não mais satisfaz. E já diziam os Titãs, que a TV nos deixou burros,

muito burros demais. Agora não mais. A revolução móbil, ou móbile revolution já está em curso. A passividade televisiva está sendo superada pela

multiplicidade mobile. A TV deforma mentes, o potencial do mobile pode mobilizar (com o perdão do pleonasmo), e revolucionar em tempo real.
Imaginemos que ao invés de realizar check-ins em cada local em que vão, que os seres da sociedade virturreal utilizassem esta tecnologia de outra

forma. Imaginem os hackers invadindo Ipads, Iphones e Blackberrys de corruptos, colhendo suas falcatruas e disparando nas redes sociais. E a partir daí todos

fizessem check-in na porta da casa do sujeito, em um flash-mob à lá caras-pintadas. Imaginemos o compartilhamento em tempo real da indignação! Alguma mulher

começa a ser violentada e dispara a informação. Em poucos segundos alguma boa alma que está próxima pode ajudá-la. E se um policial tenta uma extorsão? Pelo

reconhecimento de voz a informação é disparada por algum dispositivo móvel, e em segundos o policial se vê cercado de policiais de verdade. E assim o efeito

cascata. A tecnologia não cria soluções nem problemas, mas sim o homem que tem esta capacidade.
Resta-nos a escolha. Continuar deformando nossos sofás e anestesiando o cérebro em frente à TV, continuar explorando 1% do bo(o)m potencial digital,

ou... Desencadear a mobile revolution.



sábado, 3 de dezembro de 2011

Antropofagia da web




             Sim, sim, estamos cansados de saber que somos bombardeados de informações a cada segundo que nos conectamos ao mundo da web. São tantas possibilidades, tantas opções de pesquisa, tanto conhecimento útil e inútil acumulados nos servidores da rede, que o mais comum é perdermos o foco e não absorvermos essa potencialidade de cultura que nos é oferecida. O imenso volume de informação, salvando raros casos, não se traduz em um aperfeiçoamento da formação de intelectos humanos. Mas o poder de disseminação da rede, ou agora da nuvem que armazena informações (vide o último legado de Jobs, iCloud), representa uma possibilidade revolucionária  para a democratização do conhecimento. Assim como em seus períodos históricos várias invencionices do bicho-homem também representaram – ainda que não o tenham efetivado – esta possibilidade: o surgimento do livro impresso permitiu ao homem registrar suas memórias, histórias e trilhar a fantasia literária, os jornais permitiram uma conexão entre lugares antes distantes, através da divulgação de notícias dos quatro cantos do planeta;  o rádio, através de suas ondas eletro-magnéticas conectou países inteiros, como no Brasil todos paravam para ouvir os discursos de Vargas; a televisão e o cinema levaram o mundo aos olhos de quem vê. Contra todo o evolucionismo, nenhuma dessas modernidades representou efetivamente um aperfeiçoamento da formação humana, portanto, não podem se assumir como instrumentos efetivamente democráticos, a não ser pelos sedutores discursos que abusam do marketing-histórico. Definitivamente não. A oligarquia informacional, o elitismo do acesso à cultura permaneceram até então intocáveis, salvo honrasas e louváveis exceções. Pero, no debemos perder la ternura jamas. A teia digital, antropofagicamente pode representar a via utópica de um conhecimento realmente democrático. Ufa.
                Esmiucemos a frase acima. Primeiro elemento – antropofagizar a teia digital. Na esteira dos ensinamentos de Oswald de Andrade – e de toda a geração modernista – a antropofagia consiste no ritual de ingerir o inimigo para dele aproveitar o que há de melhor e descartar o restante. É o antigo ritual indígena, do guerreiro que prefere morrer honradamente e ser devorado pelo inimigo, a ser preso. A web pode ser um inimigo, se mal utilizada. Se a devorarmos no ritual antropofágico, descartaremos aquelas características que podem a tornar um risco à humanidade: hiper-exposição, lobotomia dos usuários, manipulação, falta de qualidade da informação, pornôs-grafias, pedos-filias, e toda a sorte de maldades que estão mais no homem do que na rede. E ao finalizarmos a digestão da web, absorveremos seu potencial disseminador, sua capacidade de armazenamento e agilidade de transmissão de conhecimento. Pronto, uma bela refeição antropofágica da web termina. E começa a entrar em jogo a via utópica representada por este canibalismo digital.
                Utopia é o não lugar, é o que ainda não existe, é sonho, é esperança. A via utópica de transformação da realidade pressupõe pensar o que ainda não foi formulado, imaginar um outro possível. Depois do jantar, é hora de sonhar E agir. Utopia é ousar subverter a ordem. Utopia é pensar a web contribuindo para a democratização do conhecimento, na teia dos relacionamentos instantâneos do mundo virtual, hão de surgir seres críticos, que hão de utilizar o conhecimento para transformar a realidade. O novo já nasce velho. Facebookianos do mundo, uni-vos!

sábado, 26 de novembro de 2011

CTRL V e pensamento crítico

A velha máxima professada em tempos longínquos por Lavoisier que “no mundo nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, foi ressignificada na sociedade digital do século XXI, e sua melhor expressão se deve à genialidade do Chacrinha: “nada se cria, tudo se copia”. É o imperativo do CTRL C + CTRL V, a lei do menor esforço do pensamento, as pesquisas baseadas no “doutor gooogle”. Há, ao menos, dois aspectos na lógica do CTRL V: o primeiro a questão da recriação, da citação, da agilidade na busca de informações, esta menos sombria. O outro é a do mero ato de copiar e colar, nome do comando CTRL V, colar sem pensar, às vezes sem ler, reproduzir sem criticar, algo muito funesto para o pensamento crítico.

O que se denominou acima pensamento crítico, poderia ser resumido na formação de seres humanos autônomos, dotados de criatividade, capazes de ler, interpretar e criticar as informações que recebem seja no mundo da web, seja em qualquer outra fonte de informação. O antípoda disto é a disseminação do homem medíocre, que não consegue filtrar as informações criticamente, reproduz apenas o que recebe, sentindo-se senhor da verdade (ainda que seja uma verdade alheia a ele), não consegue criar nada apenas copiar de alguém e colar como se tivesse dito tão nobres palavras. Nesta dualidade encontra-se o paradoxo fundamental da geração CTRL V.

Comumente se ouve nas ruas que a geração dos nativos digitais não conseguiu até hoje produzir um grande gênio que esteja fora das teias virtuais. As referências passam a ser a grande maçã de Jobs, que já traz a máxima capitalista no seu sobrenome, ou quem sabe um Bill Gates, que num ato de nobreza decide compartilhar um porcento da sua riqueza em obras de caridade. Na música as referências são... Quem mesmo? Lady Gaga? Bieber? Prefiro ficar gagá e tomar uma bier... Não professo uma visão catastrófica, mas os ídolos e referências da cultura pop estão diretamente ligados à lógica do CTRL V. Os artistas, pensadores e intelectuais, cada vez mais não conseguem a espontaneidade do pensamento criativo, se refugiam no passado, em referências e mais referências, que acabam por diluir a pedra de toque da liberdade: a ruptura com uma estrutura de pensamento e ações pré-estabelecida. Assim o fizeram várias figuras num tempo não muito distante, dos Mutantes a Tom Zé, de Vinicius, Jards Macalé, os irmãos Campos a Arnaldo Antunes. Assim o fez, no ínicio do século XX, Walter Benjamin, filósofo alemão morto precocemente na Segunda Guerra.

Benjamin, bem antes do surgimento da lógica do CTRL V, pautava seus estudos através da citação. Queria escrever uma obra inteira com citações. Mas ele estava longe da idéia da mera cópia passiva e desinteressada. Sua noção de citação significava retirar as ideias de um contexto original, adaptando-as a um novo contexto, colocando-as em diálogo com outra constelação de ideias. E assim, numa linguagem digital, ir linkando dialéticamente ideias diferentes para a construção de um argumento novo. Há aqui pensamento, há criação. É o que Oswald de Andrade buscou, é o movimento antropofágico de devorarmos o velho em nós mesmos para criação do novo. Se o CTRL V significasse este movimento de ideias, aí sim seria um movimento profícuo. Cópia por cópia, o conteúdo se esvai, não cola no cérebro de quem copia. E pior, atrofia cada vez mais este cérebro copiador, preguiçoso, que não sente o ímpeto de se deslocar à procura da criação. Apoiados nos filósofos Oswald e Benjamin, talvez pudéssemos pensar: “Nada se cria, tudo se cita, tudo se absorve, tudo se recria”. Antropofagia do pensamento.