sábado, 14 de janeiro de 2012

Digitalidade, autoria e conhecimento

A ideia de “digitalidade” surge como um conceito-paramêtro para medir o nível de inserção das pessoas no mundo tecnológico. Sem ancoragem bibliográfica, sem o apadrinhamento de um grande teórico, ainda assim pode ser extremamente útil para aqueles que desdenham dos rigores metodológicos dos intelectuais. Até mesmo porque estes intelectuais, em sua maioria, estão no primeiro estágio de sua digitalidade, ainda não estão inseridos na lógica dos wikis, blogs e fóruns, onde o conhecimento é produzido coletivamente, para o bem e para o mal. Nos guiarmos pela lógica dos dinossauros analógicos acadêmicos apenas restringirá a potencialidade de nossas percepções criativas.

Num nível avançado de digitalidade, até mesmo a noção de autoria se dissolve. Não o autor, mas sim a autoria. A noção de construção coletiva é elevada. As citações, interações, recriações, adaptações, livre-associações, fazem do texto uma estrutura desestruturada, aberta, interativa, onde não há espaço para egoísmos e egocentrismos. Imagine all the world sharing knowledge... No estágio primitivo da digitalidade os homo, que se dizem sapiens, conhecimento é poder individual. No estágio avançado, conhecimento é sinônimo de coletividade. O instinto virtual é coletivo.

Dentro deste instinto, o pensamento torna-se propriedade comum, imerso nas teias da web. Basta um bom instinto de pesquisa, e o conhecimento acumulado em mais de vinte séculos está na palma de sua mão, via 3G. Um comentário em um blog, fórum ou rede social, pode-nos levar a conhecer um universo antes desconhecido. Uma citação nos leva a um autor, que conseguimos baixar gratuitamente em PDF. Dali podemos ir a um sebo, e acharmos uma edição de 1929, do desconhecido, mas genial autor argentino José de Ingenieros. E todo o academicismo, toda burocracia de referenciar-se bibliograficamente cai por terra. E por vezes os eruditíssimos acadêmicos se escondem em seus gabinetes, ao invés de participarem da construção coletiva do conhecimento. Não são todos que tem a coragem de pôr a cara a tapa.

Mas a avalanche tecnológica não é, nem deve ser um fim em si mesmo. Mas como é um meio com alto potencial! Revolucionário. E sem o determinismo darwinista, mas os dinossauros analógicos devem se preocupar, pois, It´s Evolution, baby! Porque escrevermos uma dissertação, se podemos dissertar sinteticamente diariamente, com ideias tão subversivas, livres e calcadas em sólida base, em algumas linhas de um blog. Os perigos da difusão estão aí. Não mais os seres precisam ser um vazo vazio, a ser preenchido pelas opiniões elevadas dos intelectuais, professores, jornalistas, políticos. Eles têm a informação, e muita informação na web. Eles se tornam críticos, debatem virtualmente, polemizam. Se deslobotomizam, e quão periculoso isto não pode ser para os dinossauros analógicos...

Um comentário:

  1. Ao mesmo tempo que o conhecimento se torna coletivo por causa da net, ele também individualiza as pessoas por causa dela, já que, como você disse, agora não apenas os intelectuais excercem um monopólio de conhecimento sobre todos, todos podem comentar e opinar... A net é paradoxal '-'

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