sábado, 28 de janeiro de 2012

Educação x Tecnologia ?!

“Se a educação sozinha não pode transforma a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”. O pensamento de Paulo Freire, um dos maiores educadores que o mundo teve a honra de conhecer, ganha novos contornos nos dias atuais. A avalanche digital que inunda a sociedade – e que não pode mais ser ignorada – impõe um desafio existencial aos educadores.

Como Paulo Freire professava, educação e sociedade andam de braços dados, as transformações sociais levam a novas práticas educacionais, as práticas educacionais têm a potencialidade de transformar realidades sociais. Mais do que uma via de mão dupla, educação e sociedade são como linhas que se entrelaçam para dar origem a algo que não pode ser resumido em nenhuma das linhas que o formam. É uma relação mais que dialética. Nestes entrelaçamentos está um potencial revolucionário (no sentido de transformação do mundo e das ideias) único. Por outro lado se pensarmos com todas uma tradição que vai de Rousseau a Freud, transitando por vários conceitos e teoria, educação é também sinônimo de aculturação, ou seja há sempre uma dose de “adestramento” dos impulsos em favor do convívio em sociedade no processo educacional

Tendo em vista estas duas características do processo educacional, seu potencial revolucionário e sua dimensão psicológica, como pensar o papel do educador em meio ao mundo virtual-tecnológico em que seus alunos vivem? A primeira postura, defensiva e instintiva, é eleger o inimigo. Tecnologia e educação seriam opostos. Afinal de contas em 90% do tempo em que estão em contato com as ferramentas tecnológicas, somente banalidade e futilidade fluem das telas para as mentes dos aprendizes. Ou ainda pior: os meios de comunicação se tornaram extremamente perigosos, expondo os jovens a uma sorte de males. Definitivamente pais e educadores devem restringir o acesso a esses meios, são os guardiões que podem proteger os jovens dos perigos do mundo digital. Argumentos medrosos, de pais e educadores covardes, que não percebem que a restrição não funciona, pois por toda a volta eles sempre encontrarão uma oportunidade de plugar-se.

Ao invés de eleger um inimigo, cabe incorporar os atrativos digitais no processo educacional. Antes de condenar, buscar entender a motivação criada pela virtualidade. O primeiro passo. Vale lembrar que as tecnologias são apenas um meio. Quem pode dotá-las de funcionalidade e conteúdo, são os homens. Daí o papel de vanguarda da educação. Somente ela pode preencher o virtual com a densidade do conhecimento. Daí a possibilidade revolucionária da educação se utilizar da tecnologia para produzir transformações sociais. Usar a linguagem, as ferramentas para cativar os aprendizes, instigando-os a uma postura crítica frente até mesmo à tecnologia.

No caso contrário, a educação será cada vez mais um adestramento, um processo de criação de seres alienados e neuróticos, que freqüentam as escolas por freqüentar, fazem as tarefas por fazer, mas não se sentem estimulados, nem levam algo para além dali. Seres robóticos, fascinados pela tecnologia, mas sem um pensamento crítico. Salve! Precisa-se urgente de educadores! Senão, como dizia Darcy Ribeiro: “O professor finge que ensina e o aluno finge que aprende.”

sábado, 14 de janeiro de 2012

Digitalidade, autoria e conhecimento

A ideia de “digitalidade” surge como um conceito-paramêtro para medir o nível de inserção das pessoas no mundo tecnológico. Sem ancoragem bibliográfica, sem o apadrinhamento de um grande teórico, ainda assim pode ser extremamente útil para aqueles que desdenham dos rigores metodológicos dos intelectuais. Até mesmo porque estes intelectuais, em sua maioria, estão no primeiro estágio de sua digitalidade, ainda não estão inseridos na lógica dos wikis, blogs e fóruns, onde o conhecimento é produzido coletivamente, para o bem e para o mal. Nos guiarmos pela lógica dos dinossauros analógicos acadêmicos apenas restringirá a potencialidade de nossas percepções criativas.

Num nível avançado de digitalidade, até mesmo a noção de autoria se dissolve. Não o autor, mas sim a autoria. A noção de construção coletiva é elevada. As citações, interações, recriações, adaptações, livre-associações, fazem do texto uma estrutura desestruturada, aberta, interativa, onde não há espaço para egoísmos e egocentrismos. Imagine all the world sharing knowledge... No estágio primitivo da digitalidade os homo, que se dizem sapiens, conhecimento é poder individual. No estágio avançado, conhecimento é sinônimo de coletividade. O instinto virtual é coletivo.

Dentro deste instinto, o pensamento torna-se propriedade comum, imerso nas teias da web. Basta um bom instinto de pesquisa, e o conhecimento acumulado em mais de vinte séculos está na palma de sua mão, via 3G. Um comentário em um blog, fórum ou rede social, pode-nos levar a conhecer um universo antes desconhecido. Uma citação nos leva a um autor, que conseguimos baixar gratuitamente em PDF. Dali podemos ir a um sebo, e acharmos uma edição de 1929, do desconhecido, mas genial autor argentino José de Ingenieros. E todo o academicismo, toda burocracia de referenciar-se bibliograficamente cai por terra. E por vezes os eruditíssimos acadêmicos se escondem em seus gabinetes, ao invés de participarem da construção coletiva do conhecimento. Não são todos que tem a coragem de pôr a cara a tapa.

Mas a avalanche tecnológica não é, nem deve ser um fim em si mesmo. Mas como é um meio com alto potencial! Revolucionário. E sem o determinismo darwinista, mas os dinossauros analógicos devem se preocupar, pois, It´s Evolution, baby! Porque escrevermos uma dissertação, se podemos dissertar sinteticamente diariamente, com ideias tão subversivas, livres e calcadas em sólida base, em algumas linhas de um blog. Os perigos da difusão estão aí. Não mais os seres precisam ser um vazo vazio, a ser preenchido pelas opiniões elevadas dos intelectuais, professores, jornalistas, políticos. Eles têm a informação, e muita informação na web. Eles se tornam críticos, debatem virtualmente, polemizam. Se deslobotomizam, e quão periculoso isto não pode ser para os dinossauros analógicos...