Sim, sim, estamos cansados de saber que somos bombardeados
de informações a cada segundo que nos conectamos ao mundo da web. São tantas
possibilidades, tantas opções de pesquisa, tanto conhecimento útil e inútil
acumulados nos servidores da rede, que o mais comum é perdermos o foco e não
absorvermos essa potencialidade de cultura que nos é oferecida. O imenso volume
de informação, salvando raros casos, não se traduz em um aperfeiçoamento da
formação de intelectos humanos. Mas o poder de disseminação da rede, ou agora
da nuvem que armazena informações (vide o último legado de Jobs, iCloud),
representa uma possibilidade revolucionária
para a democratização do conhecimento. Assim como em seus períodos
históricos várias invencionices do bicho-homem também representaram – ainda que
não o tenham efetivado – esta possibilidade: o surgimento do livro impresso
permitiu ao homem registrar suas memórias, histórias e trilhar a fantasia
literária, os jornais permitiram uma conexão entre lugares antes distantes,
através da divulgação de notícias dos quatro cantos do planeta; o rádio, através de suas ondas
eletro-magnéticas conectou países inteiros, como no Brasil todos paravam para
ouvir os discursos de Vargas; a televisão e o cinema levaram o mundo aos olhos
de quem vê. Contra todo o evolucionismo, nenhuma dessas modernidades
representou efetivamente um aperfeiçoamento da formação humana, portanto, não
podem se assumir como instrumentos efetivamente democráticos, a não ser pelos
sedutores discursos que abusam do marketing-histórico. Definitivamente não. A
oligarquia informacional, o elitismo do acesso à cultura permaneceram até então
intocáveis, salvo honrasas e louváveis exceções. Pero, no debemos perder la
ternura jamas. A teia digital, antropofagicamente pode representar a via
utópica de um conhecimento realmente democrático. Ufa.
Esmiucemos a frase acima. Primeiro elemento – antropofagizar a teia digital. Na esteira
dos ensinamentos de Oswald de Andrade – e de toda a geração modernista – a
antropofagia consiste no ritual de ingerir o inimigo para dele aproveitar o que
há de melhor e descartar o restante. É o antigo ritual indígena, do guerreiro
que prefere morrer honradamente e ser devorado pelo inimigo, a ser preso. A web
pode ser um inimigo, se mal utilizada. Se a devorarmos no ritual antropofágico,
descartaremos aquelas características que podem a tornar um risco à humanidade:
hiper-exposição, lobotomia dos usuários, manipulação, falta de qualidade da
informação, pornôs-grafias, pedos-filias, e toda a sorte de maldades que estão
mais no homem do que na rede. E ao finalizarmos a digestão da web, absorveremos
seu potencial disseminador, sua capacidade de armazenamento e agilidade de
transmissão de conhecimento. Pronto, uma bela refeição antropofágica da web
termina. E começa a entrar em jogo a via utópica representada por este
canibalismo digital.
Utopia
é o não lugar, é o que ainda não existe, é sonho, é esperança. A via utópica de
transformação da realidade pressupõe pensar o que ainda não foi formulado,
imaginar um outro possível. Depois do jantar, é hora de sonhar E agir. Utopia é
ousar subverter a ordem. Utopia é pensar a web contribuindo para a
democratização do conhecimento, na teia dos relacionamentos instantâneos do
mundo virtual, hão de surgir seres críticos, que hão de utilizar o conhecimento
para transformar a realidade. O novo já nasce velho. Facebookianos do mundo,
uni-vos!
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