sábado, 3 de dezembro de 2011

Antropofagia da web




             Sim, sim, estamos cansados de saber que somos bombardeados de informações a cada segundo que nos conectamos ao mundo da web. São tantas possibilidades, tantas opções de pesquisa, tanto conhecimento útil e inútil acumulados nos servidores da rede, que o mais comum é perdermos o foco e não absorvermos essa potencialidade de cultura que nos é oferecida. O imenso volume de informação, salvando raros casos, não se traduz em um aperfeiçoamento da formação de intelectos humanos. Mas o poder de disseminação da rede, ou agora da nuvem que armazena informações (vide o último legado de Jobs, iCloud), representa uma possibilidade revolucionária  para a democratização do conhecimento. Assim como em seus períodos históricos várias invencionices do bicho-homem também representaram – ainda que não o tenham efetivado – esta possibilidade: o surgimento do livro impresso permitiu ao homem registrar suas memórias, histórias e trilhar a fantasia literária, os jornais permitiram uma conexão entre lugares antes distantes, através da divulgação de notícias dos quatro cantos do planeta;  o rádio, através de suas ondas eletro-magnéticas conectou países inteiros, como no Brasil todos paravam para ouvir os discursos de Vargas; a televisão e o cinema levaram o mundo aos olhos de quem vê. Contra todo o evolucionismo, nenhuma dessas modernidades representou efetivamente um aperfeiçoamento da formação humana, portanto, não podem se assumir como instrumentos efetivamente democráticos, a não ser pelos sedutores discursos que abusam do marketing-histórico. Definitivamente não. A oligarquia informacional, o elitismo do acesso à cultura permaneceram até então intocáveis, salvo honrasas e louváveis exceções. Pero, no debemos perder la ternura jamas. A teia digital, antropofagicamente pode representar a via utópica de um conhecimento realmente democrático. Ufa.
                Esmiucemos a frase acima. Primeiro elemento – antropofagizar a teia digital. Na esteira dos ensinamentos de Oswald de Andrade – e de toda a geração modernista – a antropofagia consiste no ritual de ingerir o inimigo para dele aproveitar o que há de melhor e descartar o restante. É o antigo ritual indígena, do guerreiro que prefere morrer honradamente e ser devorado pelo inimigo, a ser preso. A web pode ser um inimigo, se mal utilizada. Se a devorarmos no ritual antropofágico, descartaremos aquelas características que podem a tornar um risco à humanidade: hiper-exposição, lobotomia dos usuários, manipulação, falta de qualidade da informação, pornôs-grafias, pedos-filias, e toda a sorte de maldades que estão mais no homem do que na rede. E ao finalizarmos a digestão da web, absorveremos seu potencial disseminador, sua capacidade de armazenamento e agilidade de transmissão de conhecimento. Pronto, uma bela refeição antropofágica da web termina. E começa a entrar em jogo a via utópica representada por este canibalismo digital.
                Utopia é o não lugar, é o que ainda não existe, é sonho, é esperança. A via utópica de transformação da realidade pressupõe pensar o que ainda não foi formulado, imaginar um outro possível. Depois do jantar, é hora de sonhar E agir. Utopia é ousar subverter a ordem. Utopia é pensar a web contribuindo para a democratização do conhecimento, na teia dos relacionamentos instantâneos do mundo virtual, hão de surgir seres críticos, que hão de utilizar o conhecimento para transformar a realidade. O novo já nasce velho. Facebookianos do mundo, uni-vos!

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